Em discurso na cerimônia de graduação da Universidade em South Bend, Indiana, a mais importante do sistema educacional católico nos EUA, Obama resolveu atacar diretamente a polêmica dos últimos dias para pedir sensatez.
"Como permanecemos firmes em nossos princípios e lutamos pelo que consideramos certo, sem repreender os que têm convicções igualmente firmes no outro lado?", questionou Obama.
AFP |
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Barack Obama discursa na Universidade de Notre em defesa da tolerância |
O presidente, que chegou à Universidade depois de cinco pessoas terem sido detidas hoje em protestos contra o aborto fora do perímetro do campus, afirmou: "quando abrimos nossos corações e mentes a aqueles que podem não pensar como nós é quando descobrimos pelo menos a possibilidade de pontos em comum".
"Achar pontos de contato inclusive entre pessoas de boa vontade, homens e mulheres com princípios e valores, pode ser difícil", reconheceu o presidente, que acrescentou que o aborto é o assunto no qual esse problema é mais visível.
"Cada lado continuará colocando seus argumentos ao público com paixão e convicção. Mas devemos poder fazer isso sem fazer piada daqueles que têm pontos de vista diferentes", ressaltou.
Obama abordou a questão do aborto, uma das que mais desperta debate acalorado e mais divisões nos Estados Unidos.
"Podemos estar de acordo com que se trata de uma decisão dilaceradora para qualquer mulher" e com a necessidade de reduzir o número de gravidezes indesejadas ou de facilitar as adoções e o apoio às mães que optarem por dar à luz, explicou.
"Respeitemos a consciência dos que estão em desacordo com o aborto e redijamos uma cláusula de consciência sensata", pediu o líder americano.
Apesar dos apelos de Obama em favor do entendimento, o presidente foi recebido com manifestações por centenas de pessoas e cartazes contra o aborto no lado de fora da Universidade.
AFP |
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Homem grita slogans antiaborto em protesto contra fala de Barack Obama |
Além dos detidos hoje, outras 19 pessoas foram retidas no sábado.
Os manifestantes protestaram contra o fato de ter sido concedida ao presidente a honra de fazer o discurso de graduação e um título de doutor "honoris causa", apesar das posições de Obama em favor do direito ao aborto e à pesquisa com células-tronco embrionárias.
Quando Obama defendeu estes pontos de vista, sempre deixou claro que é preciso legislar de acordo com o que a ciência decidir, e, no caso do aborto, o Governo deve adotar medidas para que as gravidezes não desejadas se reduzam ao mínimo.
Em entrevista à rede de televisão "Fox News", o sacerdote Richard McBrien, professor de Teologia de Notre Dame, afirmou que o convite a Obama não significa que a instituição de ensino apoie os pontos de vista do presidente sobre esses assuntos.
"Há outras posições que adotou, sejam sobre imigração, pobreza ou o que for, que coincidem plenamente com as doutrinas sociais do catolicismo", defendeu McBrien.
"Se pedíssemos 100% de acordo com as doutrinas oficiais da Igreja a cada pessoa que fala ou que recebe um título honorífico de uma universidade católica, não poderíamos contar com políticos de nenhum partido", afirmou.
A maioria dos estudantes da Notre Dame concordou com o convite a Obama, e uma pesquisa do Centro Pew indicou que apenas 28% dos católicos pensam que a universidade não deveria ter proposto a participação do presidente.
Dezenas de estudantes decidiram boicotar a cerimônia de hoje e participaram de um ato alternativo liderado pelo diretor da organização Sacerdotes Pró-Vida, Frank Pavone.
A polêmica coincide com a seleção que Obama deve fazer de um juiz para a Corte Suprema, a instituição que legalizou o aborto nos EUA em 1973 e cujos candidatos são escrupulosamente examinados por republicanos e democratas sobre suas posições a favor ou contra a interrupção voluntária da gravidez.