"Pecado é provocar desejo e depois renunciar."
(Renato Russo/Marisa Monte)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Minuto de Silêncio _ Moacyr Scliar


O mundo das Letras está mais triste hoje: partiu Moacyr Scliar.
Scliar morreu por volta da 1h deste domingo, por falência múltipla dos órgãos.
Esteve internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro, quando deu entrada para a retirada de pólipos (formações benignas) no intestino. A cirurgia foi bem sucedida mas, como o mundo é cruel, após vencer todo  risco cirúrgico Scliar teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e veio a falecer. 

Moacyr Jayme Scliar, descendente de judeus, nascido em Porto Alegre/RS no dia 23 de março de 1937, formado em 1962 pela UFRG em Medicina, casado desde 1965, com Judith Vivien Olivien, com quem tem o filho Roberto, doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública realizou-se mesmo na Literatura.
Ao longo de seus quase 50 anos de carreira, produziu de mais de 67 obras literárias, ganhador de diversos prêmios literários, entre eles três prêmios Jabuti, era o sétimo ocupante da cadeira 31º da Academia de Letras desde 2003. 

O enterro será realizado no Cemitério União Israelita de Porto Alegre, em cerimônia para familiares e amigos, nesta segunda, às 11h.
Para relembrar o gênio, nada mais adequado que um conto dele que fala justamente da partida de um rei.

MINUTO DE SILÊNCIO

O rei morreu, e o governo decretou: no dia seguinte ao do enterro, às dez horas da manhã, toda a população deveria guardar um minuto de silêncio. Assim foi feito, e à hora aprazada um pesado silêncio caiu sobre todo o país.

As pessoas que estavam na rua viam outras pessoas, absolutamente imóveis, em silêncio. Supostamente deveriam estar pensando no monarca falecido, e, de fato, muitos pensavam nele; na verdade quase todos, a exceção sendo representada por um professor de matemática que tão logo ficou em silêncio, pôs-se a fazer cálculos e descobriu que a soma dos minutos de silêncio de vinte e seis milhões e oitocentos mil cidadãos equivalia a cinquenta anos, exatamente a idade que tinha o rei ao falecer. Uma vida se perdeu, pensou o professor, outra vida se está perdendo agora, no silêncio. E logo depois: não está se perdendo, não inteiramente, pois algo descobri - o que será?

Nesse momento, na maternidade, sua mulher dava a luz a uma criança que, portadora de múltiplas lesões congênitas, não resistiu: viveu apenas um minuto. O tempo suficiente para que a mãe a batizasse com o nome do saudoso rei.

[Moacyr Scliar - Publicado na Folha de São Paulo/1989]

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